sexta-feira, 22 de julho de 2016

Desabamento do Condomínio Grand Parc Residencial Resort (Espírito Santo) - Avaliação pelo Professor Robson Gaiofatto

Matéria reproduzida do Jornal Tribuna, do Espírito Santo

Com vasta experiência, o perito especialista em estruturas Robson  Luiz Gaiofatto (e também professor da UCP) chegou ontem (20/07/2016) do Rio ao Estado (Espírito Santo) em busca de encontrar, junto com outros peritos, a causa do desabamento do Grand Parc Residencial Resort, ocorrido na madrugada de terça-feira.
Ele veio a convite do CREA-ES e do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia e irá analisar o projeto da área de lazer que desabou e das três torres. Imagens que mostram o momento do acidente serão fundamentais.

A TRIBUNA - Já há diagnóstico preliminar que indique o que provocou o desabamento?

ROBSON - Fizemos a inspeção de campo hoje (20/07/2016) para começar a estudar de que maneira as coisas aconteceram. Recebi cópia dos projetos e iremos iniciar as análises, que não são rápidas. É preciso fazer um comparativo do projeto com o que vimos na obra. Temos que verificar se o que está executado está de acordo com o projeto. Há duas questões: você pode ter um problema no projeto e pode ter um problema executivo.

A TRIBUNA - E isso demora?

ROBSON - É provável que dentro de um mês a gente possa ter conclusões. Obviamente que existe uma preocupação de acelerar o processo.

A TRIBUNA - Na prática, o que pode configurar um problema no projeto?

ROBSON - É o que a gente chamaria de um erro. Na engenharia se trabalha em cima de normas técnicas. Então, a primeira questão que se verifica nesses casos é se o projeto atendeu as normas técnicas. Caso não, temos que verificar se isso foi a causa do acidente ou não.

A TRIBUNA - Se houvesse problema estrutural, ele não teria acontecido antes, considerando que a obra foi concluída em 2010?

ROBSON - Não necessariamente. O concreto é um material praticamente vivo. Ele muda de propriedade ao longo do tempo, embora cada vez mais lentamente. Muitas vezes um problema de projeto, uma falha de execução, uma coisa qualquer, se sustenta até um determinado dia. Isso para não falar dos processos de deterioração que o concreto sofre. Então às vezes você tem um problema estrutural, mas que se sustenta porque o concreto estava íntegro. Com o passar do tempo, o concreto vai se danificando e esse problema estrutural aparece.

A TRIBUNA - Mas isso precisa de alguma influência externa, por exemplo um vazamento?

ROBSON - Pode ser um vazamento, a própria agressividade do ar. Até o ar que a gente respira é um agente agressivo do concreto.

A TRIBUNA - Um vazamento na piscina poderia ter influenciado?

ROBSON - Pode, embora a gente não tenha notícia até o momento de que existisse um vazamento na piscina.

A TRIBUNA - E a laje protendida, que permite maiores vãos entre os pilares, juntamente com um vazamento, poderia ser motivo?

ROBSON -  Tudo é possível, mas a técnica de estrutura protendida é mais segura do que as convencionais, desde que bem projetada e bem feita.

A TRIBUNA - Então, não há nenhum indício do que houve até agora?

ROBSON - Do que observamos até agora, não há nada que possamos eleger como uma principal linha de investigação. Existe uma filmagem que mostra a sequência do acidente que será analisada. As imagens podem ajudar a identificar as falhas.

A TRIBUNA - Já viu algo semelhante ao que aconteceu no Grand Parc?

ROBSON - A gente já participou de grandes problemas, como o acidente do Palace II, na Barra da Tijuca (RJ). Recentemente acompanhei o problema na ciclovia no Rio, como perito.

A TRIBUNA - Pelas primeiras análises, é possível apontar se a estrutura das torres foi abalada?

ROBSON - Ainda é cedo... Até o momento não podemos dizer que os prédios estão seguros, mas também não tenho nenhum motivo que me leve a duvidar da segurança deles.





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